ALBINHO XEXELENTINHO

Fui sacaneada desde o hospital, meu pai chegou atrasado pra variar e começou a perguntar pra quem via se a menininha dele havia nascido, conta a minha mãe.
A enfermeira que era amiga dela e foi logo gritando: - É uma menina linda! (Sem contar as palmadas básicas), mas o pior é aquela bendita foto de saída de hospital: vestidinho rosinha, um laçinho na cabeça, brinquinho na orelha, sapatinho com topinho e pior que é mostrada de tempos em tempo na maior cara de pau.

Quando minha mãe vem com aquele álbum, penso em varias coisas que poderia fazer antes que ela abra e mostre o tempo em que eu era travesti, mas o que mais tenho vontade de fazer é voar na mão dela pegar o álbum picota em pedacinhos, pedacinhos bem pequenos, arremessar pela janela, mas quando a pessoa diz algo como: ela era linda, se referindo a mim no passado, minha vontade de arremessar o álbum passa, surge uma repulsa fico com vontade de arremessar a pessoa pela janela.

Devia existir um jeito de saber a sexualidade dos filhos antes mesmo deles nascerem, assim evitaria esses testes de resistência obrigatórios, mas aos 14 anos tive minha vingança, claro que depois de um pequeno interrogatório, com mais ou menos umas mil perguntas, sobre o que uma cueca estaria fazendo no meu armário. Admito foi punk, mas ate hoje me lembro da cara de hã que minha mãe fez quando consegui explicar com maior naturalidade do mundo que a cueca era minha e que não precisava de nem um tipo de anticoncepcional.

Só por aquela cara, ta valendo a época de travesti...
 

QUAC... QUAC... QUAC...